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Norte e Sul
– E esse amor duplica minha alegria, inflama meu orgulho, aguça meu sentimento de existir até que eu me atrapalhe em definir se isso é dor ou se é prazer. Pensar que devo isso a alguém... Não, à senhorita – disse ele, dando um passo à frente com grande determinação. – Devo isso a alguém que amo. E não creio que homem algum jamais amou assim uma mulher...– Sua maneira de falar me ofende. O senhor pareceu imaginar que minha conduta ontem foi um ato pessoal entre mim e o senhor. Fiz o que qualquer mulher faria para proteger um homem em perigo diante da violência de inúmeros outros. – respondeu ela, orgulhosa. – Mas o senhor pareceu ter imaginado que eu não fui movida apenas por um instinto feminino, mas sim que fui instigada por algum sentimento particular em relação ao senhor.(...)– Apenas mais uma palavra. A senhorita me olha como se pensasse que meu amor pode contaminá-la. Você não pode evitar isso. E, ainda que pudesse, não tenho como limpá-la dessa contaminação. E não faria isso, ainda que pudesse. Jamais amei qualquer mulher antes. Minha vida sempre foi muito ocupada, meus pensamentos sempre absorvidos em outras coisas. Mas agora, não se preocupe com qualquer demonstração da minha parte.Ele virou-se abruptamente e deixou a sala. Margaret pôde dar uma olhada rápida no seu rosto antes dele sair. Ela pensou ter visto o brilho de lágrimas não derramadas em seus olhos, o que transformou sua aversão orgulhosa em algo diferente e mais gentil, quase beirando a dor – certo remorso por ter causado tanta humilhação a alguém.
Sinopse:
O romance Norte e Sul foi escrito e publicado na revista Household Words na forma de folhetim, como era de costume, no ano de 1854, quando a Inglaterra sofria os efeitos da Revolução Industrial e das mudanças delas advindas. A mola propulsora do enredo é a mudança da família de Margaret, da idílica cidade de Helstone, sul da Inglaterra, para o centro industrial de Milton-North. Norte e Sul retrata os efeitos da Revolução Industrial no solo inglês. Os personagens principais: Thornton e Margaret dualizam o norte (industrial, sujo e sem modos) e o sul (bucólico e aristocrático). O relacionamento entre os dois pode evocar no leitor lembranças de Orgulho e Preconceito, pois, assim como na obra de Austen, os personagens de Gaskell também precisam passar por cima das convenções sociais e dos preconceitos em busca do amor e da realização.
O que eu achei:
Depois de assistir a série North and South (BBC 2004) fiquei tão apaixonada pela história que corri até a livraria para comprar o livro em que a história se baseava. Quem me conhece já sabe que eu amo Orgulho e Preconceito, e esse livro se parece em muitos aspectos com o da Jane Austen. Há todo um conflito entre os protagonistas que faz você lembrar das encrencas entre Lizzie e Darcy. O mocinho, John Thornton (o ator da série foi brilhante em sua interpretação – além de ser lindo demais – rsrs) se apaixona primeiro por Margaret, mas é sempre esnobado pela mocinha orgulhosa e cheia de opiniões, que depois de declinar ao seu pedido de casamento, descobre pouco a pouco que desprezou um partidão, um homem nobre e muito honrado. Mas verdade seja dita, a Margaret, em muitos momentos, é irritante, vaidosa e esnobe demais para o meu gosto. O Thornton, no entanto, é cativante e misterioso. Mas entendo que há todo um contexto: Margaret foi arrancada do seu idílico e calmo lar para ser lançada num mundo completamente oposto, quase distópico em comparação. Uma cidade industrial, poluída, barulhenta, nebulosa, e sentindo-se infeliz e perdida, ela acaba desenvolvendo um forte senso de justiça social, o que a deixa chata, rsrs, e a leva a bater de frente com o Thornton. Bom, definitivamente não é um romance fácil de ler, do tipo bucólico e tranquilo. A leitura é extensa, o enredo é cansativo e austero, e não foca tanto no romance, mas em questões políticas e econômicas da era vitoriana. fato é que gostei muito mais da série da BBC. Nicholas Higgins, por exemplo, foi um personagem secundário que eu amei na adaptação que fizeram, mas ao ler a história original, percebi que lapidaram bastante o homem. Não vi muito do amigo responsável e idealista que pintaram. No livro ele é um pouco diferente. Além disso, esperava um final bem mais emocionante para os mocinhos. Fiquei um pouco decepcionada com o desfecho morno do livro. Esperei por mais de 740 páginas e não teve nem um beijinho entre o casal principal, pelo menos na série fomos brindados com um final lindo e com um beijo digno dos melhores romances. Acho Orgulho e Preconceito mais fácil e gostoso de ler.
Au revoir.
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